A violência contra as Mulheres e Meninas é um Problema de toda a Sociedade.

A cada 8 minutos uma mulher é agredida no Brasil, país que ocupa o 5º lugar, no ranking mundial de lugares mais violentos para as mulheres e meninas viverem. Aponta-se que 7 em cada 10 mulheres já sofreram algum tipo de assédio no trabalho, na rua, no âmbito doméstico.

A questão da violência doméstica contra as mulheres e meninas, é comportamental, uma vez que vivemos em uma sociedade patriarcal, ocorre que não serve como desculpa para a naturalização.

Segundo o Atlas da Violência de 2020, em 2018, 4.519 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa uma taxa de 4,3 homicídios para cada 100 mil habitantes do sexo feminino.

Uma importante discussão que acompanha o debate sobre os homicídios de mulheres é a questão do feminicídio. No Brasil, a tipificação criminal foi dada pela Lei nº 13.104, de 2015, que definiu o crime como o homicídio de mulheres em contexto de violência doméstica e familiar ou em decorrência do menosprezo ou discriminação à condição de mulher (Brasil, 2015). Assim como a Lei nº 12.340, de 2006 (Lei Maria da Penha) cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher (Brasil, 2006).

Infelizmente, é ponto pacífico que o feminicídio pode ser considerado o resultado final e extremo de um comportamento continuado de violência sofrido pelas mulheres. Na maioria dos casos de feminicídio, a mulher já sofria violência física do parceiro íntimo. E aqui, vale salientar que existe um ciclo de violência doméstica, que se consolida com base em um comportamento legitimado, consentido socialmente. Frases do tipo “em briga de marido e mulher, não se mete a colher” é um dos exemplos de como a sociedade normaliza a violência. A violência, em muitos casos, é gradativa e cíclica, e em dado momento após a agressão, há um arrependimento por parte do agressor que chora, pede desculpas, propaga a ideia de mudança por um determinado período, mas assim que o relacionamento volta ao tensionamento, irritabilidade, desacordos, incômodos dentre outros motivos, a violência se torna ainda mais acentuada. Não obstante, relacionamentos abusivos podem perdurar por anos a fio, se não houver um acompanhamento multidisciplinar de orientação psicossocial e jurídica, na tentativa de buscar melhores saídas tanto para a mulher que se encontra em situação de violência, quanto para as crianças que testemunham o descompasso de violência.

Casos como o apresentado no vídeo sobre as agressões perpetradas pelo DJ Ivis, não são isolados. E por isso, não se pode deixar de falar, problematizar, refletir, discutir, porque é o tipo de situação que é inaceitável. Não há nada que possa justificar uma agressão seja ela psicológica, moral, física, patrimonial.

O mais grave, contudo, é o fato de ovacionarem o homem que expõe ali, naquele comportamento, toda a sua masculinidade tóxica, em face de uma mulher em estado puerperal, cuidando de um bebê recém-nascido. Há tempos perdemos a conexão com a própria natureza, com a humanidade. Há uma perversidade por trás disso tudo, no momento em que ele ganha mais seguidores e torna-se ainda mais famoso e aqui está a grande preocupação, o engajamento nas redes sociais influencia toda uma geração que vê o mundo pela perspectiva do que está na mídia.

Evidentemente homens não precisam ser feministas, mas podem e devem ser aliados à pauta de erradicação de qualquer forma de violência de gênero. Está ao alcance das mãos, basta não compactuar com a cultura machista, que diminui, subjuga, menospreza as mulheres e meninas. Quando a piada machista e misógina deixa de ser engraçada, os comentários na mesa de bar, nos grupos de whatsapp, nas relações interpessoais.

A violência cessa quando os agressores são constrangidos seja em via pública, ou até mesmo no âmbito doméstico, onde a maior parte da violência ocorre.

O disque denúncia 180 salva vidas, encaminha para centro de defesa e convivência da mulher, abrigos e delegacia especializada da mulher, no endereço mais próximo da vítima. Se não tem no município, a delegacia comum, mais próxima. É de extrema importância que se coloque um ponto final nesse tipo de postura.

Conclui-se com as constatações acima, que a mudança de pensamento e comportamento está diretamente ligada à educação, desde a tenra idade, sobre o que é respeito, consentimento e limites. Não é difícil entender que atinge e adoece a todas as pessoas em uma sociedade. Imagina-se que ninguém queira essa forma de tratamento às suas filhas, esposas, mães, avós, colegas, amigas, namoradas.

Rosângela Cristina Martins

Advogada em defesa dos Direitos Humanos

Mestranda em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo

1 comentário em “A violência contra as Mulheres e Meninas é um Problema de toda a Sociedade.”

  1. Olá, Dra. Rosangela, o Business Club agradece a sua participação, acreditamos que um mundo melhor depende da reconstrução e a resignificação de conceitos.
    Acreditemos nas pessoas de bem.
    Obrigado.

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